TEXTOS

FORBES (2023)

Em oito horas tudo mudou. Em vinte e quatro horas sete novos gurus digitais nascem e sete outros morrem. Em quarenta e oito horas um think tank místico-conservador é capaz de desestabilizar uma democracia. Em três minutos Nietzsche pode ser cancelado na internet e setenta novas subcelebridades brasileiras já desapareceram. Em um segundo, 10^10 bits são transmitidos através de cabos oceânicos envelopando o planeta inteiro com informação. Seis meses é o tempo de gestação de novíssimas Redes Sociais cuja promessa é nos conectar e nos tornar mais humanos e mais empáticos. Mas permanecer conectado se torna um exercício sem fim, auto-destrutivo e, muitas vezes, inútil. Em setenta e duas horas passamos de clientes a produtos e de matéria-prima a clientes. Em 24 horas a rede de lojas Riachuelo lança e retira do ar uma nova coleção de pijamas, um item que lembra fortemente o uniforme usado por judeus nos campos de concentração. Em 2 horas a internet vem a baixo, mas em outras duas horas ela absorve & metaboliza. INTER+NETwork é a ressurreição daquilo que não morre. Uma Ouroboros criada artificialmente por cowboys millenials que hoje destacam-se como neo-bilionários em capas cafonas da Forbes.

NECROBALADAS (2022)

Montada na Big Data e incrustada na mucosa humana, a Bola de Vírus percorre o mundo plano em microgotículas de catarro e lágrimas. Abaixo da superfície, Ciborgues mantêm tarefas ordinárias criando pubs no FB. Ignoram a galáxia hominídea sem entender que o processo de obliteração da Razão não vai bombar sem 5G. O flow 3-Deuronal, o noise políticosférico. O ufanismo armado do Kentuck ronronando suado dentro de Porto Alegre sem bordas. Carreatas SLASHER-Halloween. Necrobaladas. Coice Encefálico. Múltiplas covas organizadas em matrizes NxM. Nas esquinas do X (ex-Twitter) promovemos a fermentação das bolhas de bots. Cooperzinho arenoso na orla do Guaíba em tempos de distanciamento social. Redes superestruturais coordenam respostas à pandemitologização presidencial. Bulbos. Os caixões estão sendo enterrados vazios para prejudicar o governo federal. A letalidade do vírus está sendo superestimada para detonar a economia e culpar o governo federal. A Organização Mundial de Saúde criou um complô para desestabilizar o Brasil e o governo federal. A China, simplificadamente comunista, elaborou um plano de destruição da economia brasileira e do governo federal. Existe no mundo, um plot maligno de devastação da imagem democrática do governo do Brasil, federal. Como barrar a indústria de fake news no Brasil? No Brasil você não barra a indústria de fake news, você é atropessimilado por ela. 

DEVIR-LIVRO (2023)

Um emaranhado. Uma vida-labirinto. Sem início. Ou fim. Como um livro. Repleto de experiências e acontecimentos. E ações. Um livro com pontas soltas. Sujeito ao acaso. Irresponsável. Modificado. Com ruído. Com páginas viradas ao avesso. Um livro com a dinâmica do inapreensível. Corrupto. Esvaziado de lógica. Eviscerado de razão. Bruto e não-velado. Um livro vivido. Escondido entre a pele e o osso. Ventilado o suficiente para manter o respiro. O oxigênio. A aura sutil de novas escrituras e a lenta densidade mordaz do assalto. Um livro assim. Mortalmente árido. Que estabelece o nada em direção àquilo que está por vir. Que rompa a vida para o além da vida no livro. Com determinação inversa-e-indeterminada. Que irrompa a linha destruindo o meio e que a narrativa borre o instante da incerteza no instante da sugestão. No instante seguinte. No existir entre. Resistir em frente. No abissal instante do fim. Existir para descolar a existência desse programa fluido. Para além da topologia desértica estéril e seca transnordeste. É possível olhar a casa-livro, o corpo-livro, o livro-mente, o livro-morte, o livro da vida. O domo protetor de ferro e aço que burla o sistema de segurança da consciência e que violenta o passado que se dirige para o presente perpétuo. Tempo trespassado pelo ligeiro deslocamento de ar quente na ravina de possíveis pampas mentais.  Rosto-mapa. Rosto-pergaminho. Tábua criptografada das vidas. Antologia primal escrita na cara. Destruição altruísta de alguma coisa antiga e secular. O olho da revolta que crema momentos em fogueiras de sal. Esse é o livro-derivado-do-mar. O livro que nunca se fez completo. Que nunca procurou nada nem ninguém. O livro sem capa sem retrato. Que nos impede de ser sendo. Que impede o ser. Que nos impede de não-ser-não-sendo. 

Vamos respirar agora.

Devagar. 

Mais uma vez. 

Assim.

TIO HANS (2020)

Tio Hans possuía um estranho brilho nos olhos, que eram afastados demais, grandes demais. Diferentes. Além disso, ele mancava e arrastava a perna esquerda. Ele tinha cinquenta e cinco anos e morava no décimo segundo andar de um prédio no centro da cidade. Seu apartamento tinha uma cozinha conectada a uma sala pequena, um banheiro e dois quartos. Ele dormia na sala, em cima de um sofá velho em frente à televisão. Os dois dormitórios eram utilizados exclusivamente para acomodar sua coleção secreta de caixas de papelão. Anos antes ele havia entrado de corpo e alma em dois casamentos. Ambos naufragaram. O primeiro foi um turbilhão de sentimentos retrógrados que o devastaram. O segundo, com Adele Maria, foi pautado pelo alcoolismo, pela neurose e pelo ciúme. Tio Hans não era capaz de viver regrado na rotina de casado. Não que ele se importasse muito com isso, mas hoje, em especial, se sentia sozinho e ansiava pela companhia de uma mulher. Aos dezessete anos Tio Hans conseguiu com muito esforço entrar na universidade. Foram os piores 3 anos de sua vida. Resolveu que seria químico e tentou de todas as formas atingir esse objetivo. Mas as aulas o entediavam e sempre criava subterfúgios para não obter sucesso. Cancelava disciplinas e não comparecia às aulas. Seu processo era sempre o mesmo: tentativa, sabotagem e fracasso. Ao final do terceiro ano, desistiu. Aos 23 anos de idade, Tio Hans ainda morava com a mãe que era viúva. Trabalhou como uma espécie de faz-tudo no bairro e passava boa parte de seu tempo livre lendo histórias em quadrinhos ou revistas de ficção científica. Nesse período ele costumava usar maconha e beber muitas cervejas. Foi detido pela polícia duas vezes por agressão física e prometeu que mudaria. Era um início sutil para muitas outras incursões à delegacia. Tempos depois, Tio Hans se arrependeria destes anos inúteis. Hoje Tio Hans trabalha em uma revendedora de automóveis. Adquiriu esse emprego como um favor de um de seus primos. Sua função é lavar os automóveis da loja. Depois que lava a lataria, ele limpa o interior dos veículos com um aspirador de pó. Um trabalho maçante e braçal. Como ele ainda é alcoólatra, dificilmente consegue chegar antes das dez da manhã no trabalho. Quando consegue, vai até a cozinha e prepara um café. Geralmente ele utiliza 3 colheres de sopa para 3 canecas de água. Usa o filtro de passar café número 102 que. Com a caneca de café cheia até a boca, Tio Hans acende um cigarro na garagem. O café e o cigarro trazem-lhe uma gostosa sensação. Com essa mistura, a vida parece assumir uma aura misteriosa de sentido e esplendor. 

ESSA ESTRANHA NÉVOA ENTRANHADA NA SINA (2019)

A prova pericial. A perícia. Que escrutina um fenômeno. Que põe na placa confocal - com superfície tratada para uso em microscopia de alta resolução e invertida, um evento. Que busca estabelecer causalismos. Que tenta mapear as rotas da Verdade. Os circuitos da evidência. Como as Comissões Parlamentares de Inquérito que investigam e são conduzidas pelo Poder Legislativo e transformam a casa parlamentar em uma pizzaria de perguntas para ouvir depoentes sorrateiros e transtornados.  A prova pericial. Do perito. Do especialista. Do cientista. Que compreende todo fluxo de eventos que levou a tal circunstância e que levará a tal corolário. Que realiza análises e testes laboratoriais. Que busca compreender as linhas de ação por trás do véu difusor da realidade. E o perito-lixo. O Junk - O Junkie - O junky. Como um dado viciado ou uma carta marcada, ou uma cartola com fundo falso. Destituído de responsabilidade com a retórica objetiva do mundo. Que costura justificativas sobrepondo esquemas de leitura do real. Essa Junk Science burla o método. É contra o método. É o método diametralmente oposto. Quanto de Newton devemos ao misticismo? Quanto da epistemologia de Feyerabend devemos aos Dead Kennedys? Ciência como formulação de mundo. Ciência lixo como (outra) formulação de um mundo NO FUTURE. A ciência é uma ruminação atrás da outra atrás da outra e da outra e todas atrás de controle do mundo sobre determinados sistemas focais. A pseudociência também. A perícia criminal e trabalhista também. Todas são formas de episteme sobre o mundo e as coisas do mundo. São estatísticas de comparação de padrões. Moda. Norma. Média Aritmética e Frequência Absoluta. Métodos de aproximação. E se Bergson morresse antes de nascer? E quando o sol explodir, daqui a 5 bilhões de anos? Junk Science é sorte. Não a sorte matemática, mas uma estranha névoa entranhada na sina.

ABISMO BRANCO 1 (2013)

Estamos em 1896, Nietzsche olha o nada. Sua mente é incapaz de integrar um pensamento. Anos depois, sua irmã irá abandoná-lo para sempre. Quando Leibniz morreu, suas correspondências foram enviadas para Kant, 200 anos antes. Seus obstáculos em vida (de Leibni(t)z) eram de outra ordem, mais parecidos com os de Kepler, ou de Kafka. Eram envoltos pela existência. Nenhum nem outro imaginava como o mundo terminaria, e nem por isso regressaram ao útero. No conflito interno, onde o subjetivismo combate o poder, somos impelidos a voltar, isso era o que eu pensava na época. As pulsações do subsolo invertem suas direções, são como vetores multifacetados evolutivamente divergentes em relação à seta temporal. São entes imaginários. Sem precedente real. Sem lastro no mundo. Sem porra nenhuma. Isso quem disse não foi ele, foi Lorenz, a partir de uma perspectiva etimológica, em frente ao pathos. Durante o século XIX inteiro houve anomalias ocorrendo na superfície do sol, exatamente como no século XX e como há 1 milhão de anos. Entretanto, nenhum registro gráfico dessas anomalias foi efetuado nas paredes de Lascaux. Nem em Naspolini. E muito menos na Diamantina. Isso é óbvio. Essas pessoas estavam preocupadas com a mímese da sopa primordial, estavam atordoadas com a primeira representação narrativa do mundo, mesmo que não fosse. Quando Benjamim olhou para o vasto colosso da Xerox Corp erguido num centro de pesquisas, em Palo Alto, ele desconfiou que suas premissas modernistas estivessem corretas. Ele era, afinal, um hominídeo pensador como qualquer outro. Era adepto do uísque e das divergências da Grande História e da metanarrativa de Lyotard. Isso eu li. Agora, desse entrecruzamento interdisciplinar com tendências artístico-artesanais, realizado em Japaratuba, no Sergipe, nasceu Bispo, o marinheiro esquizofrênico, e toda uma quadrilha de performers conceituais autorreferenciados e biografematizados. Nossos catedráticos - que não eram muito diferentes dos imaculados renascentistas, nem dos idolatrados neoclassicistas e nem dos pós-estruturalistas (estes sim, artistas que explodiram berços) - sabiam o que estava acontecendo. Essa é a teia. Ou melhor, uma diminuta parcela da teia dos homens do abismo branco. Do pelotão alfa-ômega que nos define. Acontece que existem estudos culturais, e estudos críticos, e estudos transgender, e tudo o mais envolvendo nano-histórias de alguma coisa impossível de apreender continuamente - pois é impossível, e porque pulsa no tempo. Mas isso não é narrar. É um não-registro. Essa é a ficção que constrói nossos sub-objetos do devir. Isso era o que Nietzsche diria, se pudesse. Mas não pode, pois sua circuitaria neuronal está em 1666, no ano dourado. No ano newtoniano. E dourado. Na aurora de um mundo cristão e mecânico possuidor de um espírito alquímico e pagão.

ABISMO BRANCO 2 (2015)

Se fizermos uma retrospectiva chegaríamos à conclusão que estamos próximos de uma  implosão do conhecimento sobre os cânones greco-romanos. Enquanto Bruno Latour pisa em ovos, chegamos a tempo de ver o reverso da vida no Atlântico. A tempo de testemunhar mais uma canalhice joyciana. Os olhos de Van Neumann brilham. Ele sabe que construiu um dispositivo letal que acabou não matando ninguém (mentira). Van Neumann sumiu. Reascendeu em milhares de planos. Dentro de sua variedade própria. Cristalizada. Naturalizada. O senhor Neumann parte de algo estabelecido. Parte daquilo dito essencial. Ele é, assim como Tesla, iludido com a possibilidade da vida em outros planetas. Sem um Ford T, sem um alfaiate e sem a torre Eiffel, Tesla possui a capacidade de modificar a própria aparência. Van Neumann descobriu que só conseguia desenhar objetos quadridimensionais altamente reativos a estímulos. Isso é considerado uma excelência técnica dentro de determinados grupos artísticos em Katahaka, Japão. Entretanto os prazos para terminar seus dispositivos métricos são curtos. Ele não quer ir além. Não pode ir além. São trechos que se auto narram de maneiras metafóricas e com conceitos agressores críticos. No sistema capitalista do final do século XIX, a viagem de Tesla, para encontrar a sutileza da magia e as emoções de seu trabalho, segue forte rumo ao aprendizado e, consequente dúvida.

DAQUILO QUE É SERTO (2016) - de Paul Becker

Quando uma fórmula considerada hipoteticamente verdadeira começa a ser escrita entendemos o que vem a seguir como sendo o resultado de uma matriz com sistema lógico baseado em um conteúdo e um discurso coerente. Isso quer dizer que estamos andando ao redor de colunas conceituais de pura elegância e rigor. Assim, dentro desse plano perspectivo, e com esse tipo de linha argumentativa como aríete, estamos prontos para desvendar o mundo real, natural e físico. Nossas ferramentas, então, são a lógica, a razão e a coragem. Como dizia o ancestral humano, "um mergulho no lago naturalista não pode e não deve nos desanimar”. Somos protagonistas dessa História. Temos o poder de domá-la através de nossa retilínea perseverança. Da mesma forma que o fio da navalha fatia a carne, o verbo segrega a vida em dois planos de existência prospectando ambos em direção a uma nova e terceira existência. Esse verbo atua contra a falácia na intenção de romper a barragem que bloqueia a visão. Sabemos que essa lâmina é capaz de dividir o átomo tamanha sua potência e nitidez. Entretanto, também, é capaz de atrair e agregar bilhares de naturezas e seres humanos, pois em nossos corações não há mais espaço para o metafísico nem, no obstante, para o transreal. Encaramos tudo como irrelevante quando optamos pelo processo seletivo baseado na competição. Gostaria de finalizar dizendo que a deslogicização de nossa sociedade manifestada na vultuosa e desvairada soma de medos, não deve nos assustar, tampouco deve causar perturbação. Ao contrário, ela deve ser dilacerada pelo fio da espada e esmagada pela pureza infinita daquilo que é Serto.

APOCALIPSE (2012)

Eu li sobre o apocalipse durante o último final de semana do verão de 1997. A cada página meu coração paralisava e eu fazia um esforço tremendo para virar as páginas. O romance em questão se chamava “O Pardal”, de Paul Becker, e certamente não agradou a crítica especializada, muito menos aqueles que não estavam interessados ​​em desenvolvimentos narrativos fragmentados e livres. 

Mesmo assim, alguns leitores vorazes toparam criar um grupo de leitura e me convidaram para fazer parte. Achei bem ok e aceitei. Eu não tinha nenhuma razão para não me engajar nessa atividade. Além disso, eu considerava o livro especial e queria muito me aprofundar nas ideias do autor. Dessa forma, digamos, eu explicitamente entrei para o grupo “Pardal”.

Segue um excerto do livro de Becker:

“Quando uma fórmula considerada hipoteticamente verdadeira começa a ser escrita entendemos o que vem a seguir como sendo o resultado de uma matriz com sistema lógico baseado em um conteúdo e um discurso coerente. Isso quer dizer que estamos andando ao redor de colunas conceituais de pura elegância e rigor. Assim, dentro desse plano perspectivo, e com esse tipo de linha argumentativa como aríete, estamos prontos para desvendar o mundo real, natural e físico. Nossas ferramentas, então, são a lógica, a razão e a coragem. Como dizia o ancestral humano, 'um mergulho no lago naturalista não pode e não deve nos desanimar'. Somos protagonistas dessa História. Temos o poder de domá-la através de nossa retilínea perseverança. Da mesma forma que o fio da navalha fatia a carne, o verbo segrega a vida em dois planos de existência prospectando ambos em direção a uma nova e terceira existência. Esse verbo Gilette atua contra a falácia na intenção de romper a barragem que bloqueia a visão. Sabemos que essa lâmina é capaz de dividir o átomo tamanha sua potência destruidora. Entretanto, também, é capaz de atrair e agregar bilhares de naturezas e seres humanos, pois em nossos corações não há mais espaço para o metafísico nem, no obstante, para o transreal. Encaramos tudo como irrelevante quando optamos pelo processo seletivo baseado na competição. Gostaria de finalizar dizendo que a deslogicização de nossa sociedade manifestada na vultuosa e desvairada soma de medos, não deve nos assustar, tampouco deve causar perturbação. Ao contrário, ela deve ser dilacerada pelo fio da espada e esmagada pela pureza infinita do que é Serto.”

ESPONJA (2013)

A sensação aquela, do mero estável e do lado inverso, de várias vidas sobrepostas requer paciência, pois sofre para estabelecer uma relação já morta. Esse tipo de estratégia, de re-e-encenar um indigesto mortífero axioma da vida [validado pela intenção] como se tudo estivesse desprovido de pulsação, mantém a reavaliação de todo o enredo passado e desfavorita o sentimento iminente de um futuro possível. Ao passo que trafegar no entremeio das camadas imensas de vida permite que tenhamos acesso a um longínquo percurso in progress, o real afunda nesse mesmo espaço de troca. É típico de quem emborca dois litros de álcool (cachaça) de manhã. Tão peculiar. Remete a aspectos rituais de invocação em outros círculos de existência. Dá para notar nas mãos encaroçadas cheias de dutos sanguíneos dilatados vibrando forte debaixo do sol. O gorro enterrado na cabeça pressiona as orelhas carcomidas e machucadas. Os olhos estão em chamas e atrás deles, lava. Enxergamos tudo por minúsculas fendas ingênuas horizontais guardadas por uma centena de fios ciliais protetores. O ser é inesgotável em termos descritivos e é irregular em sua vontade de fazê-lo. Os braços movem-se em concomitância esporádica com os estímulos mentais. Tudo aqui é governado por capítulos esponjosos construídos em cima de redes virtuais entrelaçadas.  

MASSA MESTRE (2022)

Temia que não houvesse mais movimento algum, apenas seu corpo e mente em ação, trazendo de volta a noção de vida, que fora extinta. E esse estranho acontecimento antecedeu o ocaso do sol: lá estava ele, dourado e cheio de vitalidade, enquanto aos poucos afundava em direção às montanhas no horizonte. Sua força enfraquecida e sua essência transformando-se em tons de amarelo, laranja e vermelho. Sua esfericidade dava lugar à majestosa Massa Mestre. Sentada, agachada como um hominídeo de uma era distante, ela percebe a dança peculiar que executamos desde o dia em que nascemos até o dia de nossa morte. Do útero até a tumba.

CEM VEZES O MESMO ERRO (2015)

Você dorme uma noite inteira de sono. Acorda aceso como uma tocha. Como uma lâmpada. Você repete cem vezes o mesmo erro. Você erra tanto que não entende mais se existe algo certo ou errado. Você dorme cem vezes a mesma noite e erra cem vezes do mesmo jeito. Quando desperta você percebe que o mundo é a invenção de cem sonhos. Você acorda e da mesma forma que uma lâmpada que pisca cem vezes você dorme. Sempre uma noite de cada vez até a centésima noite – a última. Quando percebe que não há sonho nesse sono você é trazido de volta para dentro de outro sono. Tudo se parece com cem despertares, com cem noites mal dormidas. Daí você escova os dentes depois de quase doze horas dormindo um sono grosso. Intensas doze horas sem pregar o olho. Ruminando sobre uma vida repetida que erra. Diante desses códigos tranquilizadores ativados por cerca de cem horas trabalhando sem parar você vomita um sonho morto. A lâmpada inventa a sincronia da vida. Conforme acende e apaga define quem você é. Durante o sono, a lâmpada já acendeu e apagou bem mais do que cem vezes. Talvez um milhão de vezes. Você sonha acordado que uma vida errante escorre pelos seus dedos como água da chuva. Você analisa os vestígios de cem dias encapsulados na vida. É noite agora e enquanto você dorme você morre cem vezes um dia de cada vez depois todos ao mesmo tempo até a noite de hoje.

GRETA (2013)

Greta rolava no último dígito feito um porco na lama. Era praticamente sua casa, seu chão. Quantas vezes ela havia se perdido ali? Não dá nem para imaginar; sua mobilidade entre-planos sempre garantiu que não fosse chamada para prestar contas. Partilho desse estratagema. Ela amortece um pouco mais dextrogiro e envelopa um pacote de informação retilíneo-congênita. Em sua nuca rugosa foi instalado um vórtex projetivo que mapeia suas próprias experiências em suportes diferenciados e distantes do mainstream. Essa roleta-rolante sempre deixou Greta nervosa como se estivesse se acidentando repetidas vezes na frente de todos. 

AGNES (2015)

Ontem mesmo Agnes admitiu fazer parte de um escandaloso complô de escala global. Agnes, hoje não, agora, Agnes carregava um documento oficial afirmando que o Governo Secreto da Lua não controla mais sua mente. Ela havia sido vigiada durante muitos anos, mas isso acabou; agora ela mantém um policiamento rígido de si mesma. “Agnes, que você permaneça intacta e indefinidamente corajosa em sua vigilância”. Ou seja, Agnes mantém sua consciência em eterna ativação, patrulhando seus movimentos e escolhas. O que ela não sabe é que esta batalha está perdida. Não adianta mapear. O determinismo avança mais e mais, e a consciência de Agnes perde terreno para um inconsciente paulatino. De vez em quando, assim que houver expansão cerebral do inconsciente, Agnes (propriamente dita) perderá espaço e força. Suas fronteiras irão colapsar. Entende-se que centenas de camadas com ramificações de consciência se dobram sobre si mesmas em direção a um não-núcleo insaciável. Seria tudo muito válido não fosse pela nostálgica vontade de forçar o contrário. 

CARLA (2014)

Carla se formou no Atlântico Sul junto à costa brasileira. Depois de quatro anos vomitando nuvens e umidade, sua violenta instabilidade induziu a formação de vagalhões com 60 metros de altura em todo leste gaúcho. Com extrema força de vontade, atingiu um de seus orgasmos mais implacáveis. O mundo volátil de Carla vaporizou para sempre. Conforme todas as projeções numéricas ela voltou escorrendo pelo papel de parede da cozinha num fluxo eterno sem início. Nas duas primeiras vezes em que Carla comeu carne de panela estranhou peremptoriamente o aspecto, a textura, a cor e o sabor. Na fase final de sua evolução Carla será um ciclone puramente extratropical (com aquela estrutura central fria, bojuda e robusta). 

DIANA (2016)

Quando era criança Diana percorria o bairro coletando insetos e desmanchando pequenos acúmulos de poeira. A cada fase de vida transcorrida, Diana inquietava sua Continuidade do Próprio Existir. Para ela tudo é trama, tecido e nó. Com o púbis ereto, em posição de ataque, ela coordena e conquista a costa manobrando o quadril. Ela poderia ser puramente tropical, entretanto impulsiona ar frio em direção ao flanco Oeste. Diana não pode perceber, pois está aqui, vertendo no agora rajadas ascendentes de ar quente. Ela estuda longos textos sobre si mesma. Ela vaza oxigênio enquanto desmembra o passado. Analisa perfis de tempestades ancestrais e de velhos ciclones do litoral. Caça um si que já não é mais ela. 

IRENE (2012)

Irene mora debaixo dos paralelepípedos. Espia o céu por entre grãos de argamassa. Irene é um luto que não finda. Porém, deitada de costas, ela mói com os dentes pedaços das costelas de seus pais. Não é um ato libidinoso. Nem ofensivo. Nesse caso é um momento de degelo. Uma paralisação perigosa. Irene move suas longas pernas possantes para baixo do tapete. Ela possui tantas pernas quanto somos capazes de diferenciar e contar. Sem sua garra esquerda sabemos muito pouco sobre ela, a não ser que esteve auxiliando os novos rumos da produção de conteúdo tecnológico. Por cima de sua cabeça fluem lágrimas sem dono. Esse rodopiar é neutro. Parece um sopro longo. Quente. 

ERIKA (2018)

Assim que estacionou o automóvel em cima da calçada, Erika olhou para cima. Viu que o céu estava roxo, quase rosa, quase púrpura. Ao seu lado, conversavam dois Cromoterapeutas, especializados em uma modalidade de tratamento auxiliar que faz uso de ondas eletromagnéticas emitidas pelas cores como o amarelo, vermelho, azul, verde e laranja. Segundo eles, a cromoterapia atua numa infinidade de células do corpo e melhora o equilíbrio entre a carne e a alma, podendo ou não, gerar aquela sensação de bem-estar típica dos feriados com a família. Depois disso, um deles desabilitou o Bluetooth de seus pequenos implantes cocleares. Erika riu.

ISABEL (2018)

Isabel rachou ao meio duas portas interdimensionais. Consecutivas. Esse controle que Isabel possui não é da ordem da variação gênica mutante. Dentro de Isabel, esse processo, pelo qual toda informação hereditária contida em um gene maligno ou não, tal como a sequência de DNA, vem sendo processada em produtos funcionais. Ela consegue vetorizar diferentes normativas algorítmicas no interior das células, isto é, possui o poder de mudar as funções hiperespecializadas.

FRAN (2019)

Fran estabeleceu que sua vida não era mais aquilo que achava que era. Ela sentiu no breu da Lua sua natureza mística ser retorcida em forma de dupla hélice. Não que isso fosse algo a ser retribuído. Só não conseguia mais ser aquela pessoa. De antes. Descobriu que possivelmente nunca mais conseguiria se defrontar consigo mesma. Acontece que Babayaga, uma das genitoras de Fran no universo oculto, já dizia: “essa banheira tá cheia de chumbo”. Sem isso, não haveria o “todo mundo”, nem oceanos profundos com Kamagirus, a serpente marinha, o dragão com plumas e os cardumes de sardinha. “Ele vai morrer”. São esses modos de existir que tornam a vida surpeendente. Estamos acendendo ou apagando as luzes? Muito misterioso, suspeito, inexplicável, enigmático, obscuro, escuso, dúbio, duvidoso, suspeitoso, questionável, inquietante e suspicaz. Esse enredo insalubre permite a Fran criar novos tipos de engodos e estratagemas anarquizados.

GLÓRIA (2022)

O aspecto mais interessante de uma fossa abissal é o silêncio. A ausência de ruído em uma coluna de água translúcida. Onde a lucidez percebe a si mesma. Momento no qual Glória entende que a vida é assim mesmo e compreende também que o momento é de mergulho interno. 

O CHIQUEIRO DA FAROFA HIPERNORMAL (2018)

No futuro teremos parques temáticos biopsicomodificadores, onde nos transformaremos, via engenharia genética, algoritmos, implantes e cirurgias, em nossos heróis e em nossos personagens preferidos. Algo muito além do entretenimento oferecido no seriado Westworld. Muito além de qualquer reality show conhecido. Teremos a chance de nos tornar Walter White. Poderemos ter o controle de qualquer corpo. Teremos como modificar nossa skin orgânica conforme nossos desejos. Seremos quem sonharmos ser. Quem sempre sonhamos ser. E para muito além disso, teremos a chance de (re)viver momentos passados e situações futuras de nossas próprias vidas infinitamente. Sem dilemas, sem compromissos morais, sem escrúpulos e sem ética.

AURORA (2022)

Noite.

Cosmo Silva para o carro.

Estaciona na beira da estrada. 

Ansioso, parece estar fugindo.

(o que pode muito bem ser verdade)

Ele desce do carro e avança mato adentro em busca de algo.

Alguma coisa enterrada e escondida.

Ele nota uma luz, distante. 

Ele segue o foco de luz e chega até uma clareira. 

No breu, consegue enxergar um tipo de ritual.

Ele ainda não sabe, mas aquele é o grupo Aurora.

Cosmo chega até a clareira. Todos olham para ele.

Vemos um balde, um totem e livros. 

Em cima de um palanque improvisado, um homem, o Facilitador, veste uma máscara de chacal.

Na frente do Chacal, outro homem, com máscara de palhaço.

Apontando um cetro para os céus, o Chacal grita "eu avisei que podia aparecer alguém". 

Junto com o facilitador vemos outro homem, com garras e nariz em formato de pênis, este é o Assistente do Facilitador.

Ele grita para Cosmo algo como "Eu vou te desempalhar".

A partir daqui Cosmo passa a ser perseguido pelo Assistente do Facilitador, pelo Chacal e pelo Palhaço.

Cosmo quer chegar até o carro, quer sumir dali, sobreviver.

O Assistente continua atrás dele. Bem como o Chacal e o Palhaço.

Cosmo chega até o carro.

O porta-malas está aberto.

Cosmo fica sem saber o que fazer.

O Assistente avança.

Cosmo fica absorto olhando para dentro do porta-malas.

Ele é golpeado na nuca.

Instantaneamente desaba. 

FADE-OUT.

FADE-IN.

Cosmo acorda dentro do porta-malas.

Por algum motivo mantém seus olhos fechados. 

Arregala as retinas a tempo de ver a tampa do bagageiro se fechando.

Agora ele está preso.  

BLACK-OUT TOTAL.

Cosmo grita: "É o fim?"

FIM.

33 DIAS DO ANO DE WARBURG (2016)

Faz mais ou menos um ano que escrevi sobre a mansão. Foi o tempo que levei pra entender a coisa toda. Eu ia pro estúdio todo dia. Chegava 06 hora e ficava até umas 11e30. Antes do almoço eu visitava minha psiquiatra. Esse foi nosso acordo.  Depois de me castigar durante sete dias seguidos com um zoológico de coisas erráticas acabei atropelando sete pessoas numa parada de ônibus. Depois disso, o acordo judicial acertou o psicotratamento-todo-dia. O que acabou comigo. Mas a pintura me salvou. A psiquiatra era uma retroescavadeira na minha cabeça. Estratificando minha alma. Foi na pintura decorativa artesanal que conheci esse neo-coven. Num tempo perdido e louco que precede qualquer decisão acertada, esse grupo de aspirantes queria investigar “aspectos recorrentes e profundos do post mortem". O que eu podia fazer? Tudo isso vai phaserificar minhas potencialidades cerebrais, eles diziam. Me socaram panfletos pró-irmandade. Assisti dúzias de VHS. Sentei ao lado do cadáver-grão-mestre. Conheci todos eles como “experimentadores”, ou qualquer merda parecida com isso. Repetiam sem parar que o culto refletia os contornos obscuros do sono eterno.

PILOTO AÉREO (2022)

Entendendo a escultura social de Joseph Beuys como a criação de estruturas dentro da cabeça das pessoas, com muitas manifestações de ideias, conceitos, e redes de pensamentos e processos, de certa forma, pode ser projetada no delírio mental infringido pelas tecnologias de informação em meio ao caos político (aparente) com design sprint de um jeito que suas respostas sejam de até 5 horas e que seus produtos estejam na rua prontos e na versão beta, porque é melhor as coisas feitas do que perfeitas, aqui é necessário ter vontade de fazer e fazer com flipcharts e smoothness montados em grupos modestos de até 7 pessoas que estejam dispostas a trabalhar sem parar durante o tempo que for variando as habilidades e misturando as capacitações entre designers, antropólogos e gerentes de marketing quanto mais variado for seu grupo mais fácil de acessar o não pensado será. Bandeiras dos Estados Unidos e Israel conectadas entre as bananas de manifestações pró-intervenção. Um movimento em defesa da governabilidade, democracia pró-militarismo, espontâneo, carro de som, destruição de empregos, camisetinhas, camisinhas, socadão, corte de empregos, “isso não é bom”. 

KALI YUGA & O VÉU XINGU (2020)

Mesinhas quadradas conectadas uma na outra formando um retângulozão de homens brancos felpudos e milicianos. Com mortes estúpidas. Morte. Com ignorância. Rápida, fria, lenta e dolorosa. Com des-afetos. Des-Mórbidas políticas em um mundo à beira do CAOS. Não consigo entender como o mundo ainda permanece intacto. Integrado. Mundo humano. Um mundo que é humano e não é. Um mundo-conexão que não é UM mundo. Que tem o núcleo político em Estados plasmáticos. Com camadas subjacentes e substratos geológicos gerados pelo néctar racista de um território pensado e sentido como pertencente a quem o dominou. Direitos mortíferos da Terra. Planos e geodemarcações decididas em reuniões rasteiras e secretas, a portas fechadas. Uma elite dona das concessões. Dona das extensões orgânicas de um mapa em processo. Uma cartografia da morte que projeta sobre o real um vasto cemitério indígena de valas comuns. O véu xingu. Destinos brasileiros. Trilhas selvagens. Pampa negro, dunas e florestas úmidas. Joelho e Facão no pescoço. Ostracismo. Desistência Inca. Resiliência atemporal. Ritos e mantras e conexões com um todo espiritual na parte e no todo modificado. No todo modificado. No todo estruturado. Guarani-sanguíneos. Pele. Osso. Fusionados com húmus. Quase uma apoteose mística e sampleada. um remix subtropical no geoide que viaja no espaço ancorado num dos tentáculos da espiral galáctica. Como um polvo estelar. Um polvo das estrelas. Somos um dos clãs que trafega no cosmos em rumo à destruição. Somos essa tribo desesperada por significado que percorre a Via Láctea em busca da auto-extinção. 

NINJAS SILICONADOS (2020)

Donald Trump ainda figura como uma incubadora efêmera e incongruente da extrema-direita nacionalista e racista americana. Sua dinastia remixou atributos de ostentação egípcia com uma semiose distorcida das três gerações da Ku Kux Klan. Perdida em oásis geriátricos five stars de Connecticut/Manaus, a carreata MBGA (make Brazil great again) parte rumo à Brasilia, onde músicos indies e guerrilheiros do Twitter (hoje 'X'), alinhados aos alt-righters, confundem seu público, composto em sua maioria por novos esquerdistas intelectuais e pacifistas.  

UNIV4RSO (2014)

O destino deste exercício textual não está no que você está lendo, nem no entrelaçamento dos personagens. Ele reside na esfera das imagens mentais proporcionadas. A escrita a seguir também não dirá nada daquilo que pode ser e sim do que não pode ser. Do visual não-ser, bem como do devir imagético. Dentro de 10 minutos restarão apenas algumas lembranças e o que você estará fazendo daqui a 15 minutos é o que de fato importa. Existe algo de esquizoanalítico na casa 111 da Alameda Wamosy. Uma palmeira enorme cresce dentro de uma piscina cheia de terra. É como uma desestruturação incerta de um mundo inteiro de rachaduras e reentrâncias. É possível pensar um objeto tridimensional (a casa) como algo vivo no espaço? A vivência nos informa que não. Isso não é realizável, entretanto, parte dessa vivência só é resultado quando nos colocamos em confronto direto com o trauma do discurso. Da mesma forma que a história de uma vida a casa abisma o inconsolável. Na verdade, essa é sua maior virtude; é uma característica intra-corrosiva. Uma comoção d’almas cria estratagemas dentro das porosidades subcutâneas do porão. Escutamos um lamurio ruidoso orquestrado por zumbis. Nos corredores da mansão notamos a marca de múltiplos passados (marcas indestrutíveis do/no tempo). A parte externa é sólida e translúcida. Possui um rosto – e vários. Seu corpo, da casa, está sempre em perspectiva explodida. O zipt da impressora jato de tinta. O flip-flap-flop do envelope no balcão dos correios. Hirrrrrrc. Logo abaixo, a assinatura do diretor do instituto e alguns códigos informando a data, o tipo de equipamento, a marca, o modelo e o número de série do rolo de negativos. Esta fotografia chegou dentro de um malote junto com outras correspondências, dívidas e boletos bancários. Vista de cima, a casa é um mapping real precursor de inúmeros rastros existenciais acidentados na combustão do ir. Para enxergar a fumaça imediata, em alguns casos, é melhor se afastar. Nos dutos subterrâneos da casa são expelidos labirintos pictóricos de linhas que extravasam milhares de referências nucleares. Lembra um pouco os sintomas de alguém que precisa pesquisar infinitamente: reclusão, desaparecimento emocional, aposentadoria precoce, clausura, distância da mídia, distanciamento da família, depressão e morte. A alameda inteira flutua na g-zero do espaço sideral consumindo patógenos do tamanho de bolas de basquete. Uma rua que assume formas de antigas embarcações. O tempo todo. Sua estrutura variável de microfilamentos e minitubos corrompe o tecido espacial, é parte dele e é todo ele – sem budismos. O espaço acima do espaço vazio da mansão é o ponto de culminância de uma imensa especulação evolucionária. O percurso ao redor da casa foi concebido conforme a teoria das redes que se interpenetram consolidando uma nuvem química de possibilidades em direção a lugar algum. Em dois dos principais quartos, em cima das camas, altamente elegantes, estão acontecendo ao mesmo tempo, duas orgias de Wolfenstein 3D e Duke Nuken 3D (e 2D, também). Além disso, no hall de entrada, o sexo místico-natural pode ser transformado em tática de guerrilha de extrema velocidade e imprevisibilidade. Tudo integrado com suor e lascívia. Nos becos perpendiculares à Alameda Wamosy, logo abaixo da torção, artistas relacionais lançam mão de seus diários esperando amigos homossexuais, heterossexuais e alguns crossdressers que tenham coragem de invadir a câmara de vereadores e atear fogo em tudo. Quando me vi perdido ali, no meio da casa, em 2004 (e em 2010 e 2014), com um canhão de elétrons apontado direto no meio da minha cara, com toda aquela possibilidade gráfica vertendo do nariz. Fui para o alto da mansão, de onde eu podia ver a UTI neonatal, e desejei uma resolução para uma vida sem truques. Entendi que a Subcultura existe, funciona e até pode te aliviar, mas não é a saída. Estamos na praia. Diagramas da estrutura de usinas elétricas são atravessados por rabiscos e múltiplos pontos. Logotipos de postos de gasolina flutuam entre massas de cor lúgubres como se fosse algo hiperventilado. Frentes de ondas sonoras longitudinais se propagam golpeando a atmosfera, ressonando nas moléculas de ar. Personagens abduzidos perambulando perdidos sem pernas em becos construídos nos entremeios de caixas-pretas empilhadas dentro de cenários gráficos. Lavanderias e lancherias se confundem dentro de máquinas de lavar. O rugido das ruas. A ganância do sono. Viadutos. A mansão agora dorme, estamos a 11 minutos de distância da pirâmide rotatória. Leio a manchete no outdoor dinâmico que passa por nós a duzentos e trinta e quatro quilômetros por hora. O MUNDO MORRE. Depois de tanto tempo na clausura, eu já nem pretendia mais abrir os olhos. E depois de pensar sobre múltiplas leituras de um mesmo alguém, percebo que não carregamos nada prefixado nem conseguimos cancelar o drama do vivível. Eu não mentiria sobre esse assunto, pois jamais voltaremos a nos ver.

CATACLISMA (2012)

- Reconhecer que o conhecimento é conciso e transparente envolve diferentes níveis de violência.

- Não consigo de modo algum protestar contra isso. Me escapa.

- Depois é agora enquanto momento impune.

- Eu poderia ter começado diferente. Mais cuidadoso e de maneira mais tangencial. Eu poderia ter começado um pensamento que extrapolasse e despistasse a tendência.

- Que modificasse a crista da norma?

- Vamos tentar desacelerar revertendo o processo de dissolução. Vamos revisar o que foi visto até aqui. 

- Tudo bem, podemos estar assustados. Estamos. Há anos.

- Digamos que o céu exista. Digamos que dizer que o céu exista é o nosso ponto de partida e que se o céu existir estaremos na borda de um possível cataclisma físico. 

- Um evento colossal?

- Nos últimos 20 anos todos foram. 

- É a especificidade que conta. É o afunilamento do conhecimento o principal teor de sua ruína. São dias de perseguição.

- Afirmar a ruína significa paralelizar uma noção de queda presente dentro da perspectiva de fracasso. Essa é uma tática diversionista extraída diretamente do manual de dramaturgia brasileira.

- Dizer ruína quer dizer que as estruturas estão corroídas pelo discurso. Quer dizer que a acidez corrosiva é fruto de estudos e de pesquisas. Você sabe.

- O modo da fala mobiliza a verificabilidade da hipótese sobre alguém que desaparece enquanto respira?

- Isso é o que você diz.

- Isso é assim. Mas os ativistas e atores não gostam e não concordam.

- Ninguém é perfeito.

MANIFESTO (2010)

Ela abriu a boca e mostrou para ele um amontoado de pílulas. 

Ele balançou a cabeça e se desprendeu dela. 

Ela riu e cuspiu no chão meia dúzia de tabletes. 

Quanto tempo faz que você vende isso? 

Faz tempo, não sei. Quero me livrar.  Não me envolver. 

Quanto te pagam? 

O suficiente para eu morar e comer. 

E se eu te pagasse o dobro? 

Eu não quero. Tá bom assim. 

Olha, quando eu te vi ali parada achei que você fosse... 

Tô cheia desse papo, sabe? 

De perto, seu veículo lembrava um dromedário, mas era bem mais que isso. 

Ele o comprou de traficantes que se reuniam em frente ao supermercado. 

COPÃ (2007)

not yet we not going to the lunch time? 

please, lets talk to lunch in the mildred of the college restaurant, okah?

cammon, magik man. lets go to open bottles of wiskeyah and mi(LSD)k and so on. 

lumberjack, crackpot, maryjoana bills.

wannaguéhigh voltage cranial nervea, huh

hey, you fu**in

bba ya

you and you dongles bastards are the most provocative i wanaa kill them all

tonite

tonite dynamite your teeth

inside of your teets re the megakraus. a little mid system creature raise in hell.

beside the road

we toasting our dreams, under a sun made of glass and piss of the devil

why your Word are going always in direction of cristian diablos?

is that you like it?

or is because you are the great son of a bitch?

please, now look at you eyes, from inside.

dont like anyhis magik powers, imafraid.

NOW

ok. lets go copãl

your soul is doomed.

DESENHOS PREMONITÓRIOS (2008)

Pode ser um desenho premonitório

Feito a partir de microscópicos abalos sísmicos mentais.

Nada demais.

Essa técnica já foi exaustivamente explorada pelos paranormais da perifa.

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A previsão é o esforço de

arranjar INPUTS num

jogo de dados com a morte.

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Neste caso, quem prevê o que?

Se numa previsão o colapso é a certeza.

Então, saber sobre o amanhã

simulando estar vivendo hoje

é atingir o contrário.

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Não é sim

Como prever o nível de 

informação que chega?

Como não arruinar o destino 

sem sacrificar o devir?

TADEU (2008)

“É um lugar e não um tempo”, Tadeu lembra. Eu lembro, ele diz. Eu compreendo o que significa lembrar, não sei? Se eu souber, então ele saberá. É algo e é também alguma coisa que existe em mais de duas consciências - simultaneamente. Na mente do autor, que escreve sobre mim e na minha própria mente, de personagem criado. Quando eu digo que lembro quero dizer que sim, que lembro. Refiro-me àquela narrativa nebulosa mais ou menos fácil que se desenrola dentro de nossas cabeças sempre que fechamos os olhos. Lembramos da palavra “lembro”. Este sou eu lembrando, não o outro. Não o autor. Ele nem poderia, seria eu vestido na pele dele. Seria um simulacro de mim executado pelo outro, transcendental. Mesmo que eu descreva a partir de minha pelagem mais obscura podemos resumir o conflito do autor em pelo menos duas partes (ou etapas): eu e ele sendo que eu existo nele na medida em que ele não necessariamente existe em mim. 

CHAPISTA (2012)

Eu trabalhei no Xis Romanski de 1987 a 1992... Eu trabalhei naquele bloco... Eu trabalhei no açougue... No supermercado... Na recepção do hotel Acapulco... Na padaria (junto com o velho Marney)... Aquilo tudo era uma coisa só... Eu conheci Alípio Rodriguez... Conheci o motorista Jorge Bonfante de Albuquerque... Eu sei quem foi dona Dilva... Eu conheci Guilherme Azevedo (preparador de sanduíches)... Tadeu, a Besta (minerador)... Leopoldo Brum (professor)... Mathias Rosner (transnatural)... Lupicínio Adams (motoboy)... Sidnei Otávio (artista)... Conheci todos eles... E eles me conheciam... Eu trazia as compras... Eu levava o dinheiro... Eu sabia como as coisas funcionavam... Onde dava pra apertar... Onde não dava... No final do dia eu sempre tinha grana... Coisa boa... Pra um faz-tudo-do-caralho como eu... Se algum de vocês lembrar de mim, por favor, foda-se.

HOSOMAKI (2012)

Seu coração havia parado. A dois centímetros de seu crânio um leve clique pode ser ouvido. Agora Welly flutua. Sua alma parece um palco vazio. A gênese mórfica de uma vida passada diante de seus olhos. Hesitou alguns segundos. Depois dispara a arma em direção a si mesmo. Assim que o projétil atinge sua têmpora um outro momento se abre. Ele consegue enxergar o futuro. Não dele, mas um futuro inexistente, sobreposto ao passado. Duas dimensões colapsadas formando uma terceira. Do orifício de saída enxergamos um portal transdimensional. Essa ponte liga duas realidades. Empurra e pressiona o futuro sobre o passado já vivido, e esmaga o passado para dentro do futuro. A coisa toda lembra um hosomaki espaço-temporal.

CORPSE TRENDHUNTER (2012)

Daniela Super Pop Sinner tem 18 anos e trabalha no berço da maior empresa de tecnologia do Brasil, em Chapada Diamantina. Seu principal objetivo no emprego é rastrear unidades imagecreatures que borbulham na rede e que se transformam de um segundo para o outro em memes, buzzes, quizzes, replies e I-kes. Sinner caça aqueles artistas responsáveis pela disseminação de partículas de informação geralmente materializadas na forma de algum produto idiota onde o usuário passaria muito tempo consumindo ou não fazendo absolutamente nada. Com isso ela pode rastrear carcaças elétricas e carne podre espalhadas em vários subníveis da rede. Daniela se autointitula corpse trendhunter e trabalha 17h horas por dia. Quando encontra um(a) dele(a)s, aplica logo a velha fórmula: investiga a vida do sujeito a fundo, até encontrar alguma relação imprópria (geralmente de cunho sexual). Compra os direitos sobre suas obras e coloca isso na grande nuvem financeira da rede e aguarda pipocar os primeiros compradores. Trocando em miúdos, ela é alguém que traça a atividade de outras pessoas baseado em rotas eletrônicas gravadas em programas-servidores \det\root espalhados por todo o país atrás de ideias. ‘Venda só o que as pessoas querem comprar’ (regra de ouro #1, de Daniela Sinner). E variações (igualmente douradas) como ‘invente seu desejo’ ou ‘roubar é a arte por trás da arte’. A exploradora de startups traga o cigarro e solta no ar três toróides tetradimensionais roliços. Mas não vemos um rosto. Não há um self. Não há nada.

STELLA CHUNK (2017)

Stella Chunk desembrulha o HD de DNA em formato de cilindro nanométrico e trespassa seu hipocampo com aquilo. Depois serra dois tabletes de Dermanet e coloca-os dentro do orifício occipital. Sente cheiro de queimado. Mesmo assim continua. Depois de alguns minutos necessários para o corpo absorver os vetores, e após a reação de cura e limpeza, ela sente um estado de relaxamento corporal, seus pensamentos são tranquilos e simples. Ela deita em um tapete debaixo de um grande espelho pendurado no teto. Observa a si mesma. Mas percebe também olhar para Wellyngton Moser, seu ex-cúmplice. Percebe que havia se transformado nele e que lá de cima, no espelho, ele observa a si mesma deitada no tapete. 

BINAURAL (2018)

Wellyngton acorda no tatame. O ar no quarto está rarefeito. Empobrecido. Sonhos vívidos. Ele apanha um cigarro enquanto o MP-hologram de Susumo Yokota mantém o ritmo da música lenta e constante. Welly consegue perceber minúsculos pulsos elétricos de seus neurônios dançando no espaço. Aos poucos sente alterações na própria atividade de suas células nervosas. Vários de seus subconjuntos celulares foram afetados pelo vírus que cria barreiras entre as memórias. A mulher rasga a meia e continua com o pé nu. Enfia o pé dentro da boca de Welly. Esse não era o combinado. Mesmo assim ele relaxa e permite. Pernas enormes, negras e invasivas. A música vem em ondas beta com batidas binaurais de 14 Hz. A frequência respiratória de ambos chega a 35 mrm. Depois, cai quase a zero. 

RUÍDO DE FUNDO (2011)

R[noise]ecuperando [flash]aquela…

Com[acute noise]o ela está[shhhhh]?

Nada [low noise] bem.

P[noise]or quê?

Entro[noise]u no meio d[noise]…[fadeout]

[fadein]enha até mim.

[fadein][noise][fadeout]

[scratch]você[shhhhh]

Po[noise]sso voltar com v[noise]ocê.

Nã[shhh]o é incômodo?[noise band]

[acutenoisephony]loucura.

Agora n[noiseatall]ão.

[clic][clic][noise]

Tenh[noise]o muita pena dela[fadeout].

Pare feiquElena. 

Sem[noise]pre teremos algo para o jantar.

[fadein]Ou não né.

O[noise]u não né.

Za[scratch]aaa.

[Noi[noise][fad[n[noise]oise]out]se]

COM TRUISE (2009)

LOUcura INcurável (Louin) nunca existiu - ela diz - Nem ele nem vários outros piXadores telepatas como ele. Mesmo assim, fico surpreso quando reconheço ‘pessoas’ do passado promovendo escândalos no trem. Louin, iniciou o surto escolhendo uma pessoa qualquer, nesse caso, uma mulher, já na plataforma de embarque e desembarque dos grandes veículos transmetropolitanos. A menina estava comendo um risoles de frango, de pé. Tentava comer e segurar a lata de coca-cola e não dizia nem-que-sim-nem-que-não enquanto ele falava sem parar toda uma galáxia de significados esotéricos sobre existir e morrer e transmigrar. Quando o trem chegou ele continuou falando e seguindo a mulher. Estava dominado por algum tipo de força sobrenatural. À medida que o trem avançava as coisas pioraram. Ela ficou de costas para ele voluntariamente, mas não adiantou, era impossível evitar a imposição do jorro sincrético que saía da boca do homem. ‘Do que quer que sejam feitas nossas almas, a sua e a minha são iguais’. Era isso alternado com: ‘No sonho da noite sou perseguido por cães de Satã'. Seis minutos e sessenta e seis segundos depois, um circuito dentro da sua cabeça do homem entra em combustão e ele começa a gritar descontroladamente. Explicou da forma que deu, para todos no vagão, sobre seu plano de destruir as milhões de estátuas e imagens religiosas do mundo. Loucura Incurável era como uma versão do Com Truise do mundo invertido. Era como se uma horda de borderliners impacientes à beira de um burnout tivesse remontado seu rosto. Ele era um cara alto. Parecia forte. Difícil de conter caso seu dique neuronal rompesse. Enquanto falava seus olhos jamais descansavam. Era como se estivessem sendo controlados por alguma entidade não linear e zombeteira. Dava a impressão de que o homem estava descascando a realidade usando apenas um olho e um canivete suiço.

LACRAÇÕES TREVOSAS (2021)

O nazismo é de esquerda. O globalismo é um embuste marxista. O ser humano não esteve na Lua. A Terra é plana. O aquecimento global é um complô socialista. As vacinas infantis causam problemas mentais. Não existe crise ambiental. A Amazônia não está sendo devastada. O petróleo não vai acabar. Existem microchips que controlam nossas mentes. O holocausto não ocorreu da forma que diz a grande narrativa historiográfica. Charlatanismo. Ressurreição. A origem do universo existe e não existe. Anti-presidente. O ser humano veio do macaco. Religiões detém o segredo da vida e da morte. Coaching. Auto-ajuda. A expertise em psicologia quântica, em mindset, em manipulações do id-ego-superego, tele-evangelismo, harém cósmico, controle e autorrealização, reencarnação, selfie e masturbação autoimagética, flagelo da autorepresentação, narcisismo perverso pulsante e digital, psicodeformações ciberespaciais, manipulação do desejo, conselheiros digitais, perfis turbinados, barriga de tanquinho em um mês, auto soterramento psíquico, bombas humanas, maromba com filtro, férias das férias das férias, festas, porn food, coração puro, automóveis autômatos, raves psyNEOtrance, idiocracia, comprar seguidores, lacração, renascer no paraíso, millenials, startups, coworking, detox gay, semeador de verdades espirituais, gurus comedores de bits, motherboards, cowboys do Vale do Silício, grande mídia, open source, Soft-War livre, copyleft, kit gay, direcionamento da raiva, copyright, triplex, vender influência, zoorobots, XXX-vírus, nerds misóginos, hiper-realidade, Brexit, sono pré-medicado, Eneias e a bomba, castração química, mamadeira de piroca, ritalina, aspargos, gatinhos, gourmetização totalizadora, gangues de lésbicas bolsonaristas, racismo inverso, realismo reverso, orgulho hétero, desumanização, nazistas pardos, Tancredo Neve e Ulisses Guimarães, populismo patriótico, manutenção do status quo, alt-right, (des)colonias, arte branca, necroeconomia, arte colonizada, arte heroica, Lulinha dono da JBS, Steve Bannon, elite racista, enormes plantações de maconha nas universidades, jatinhos sabotados, des-neo-colonização, suicídio coletivo ritualístico, batismo pentecostal de fogo, controle das massas através da canalização da libido, fetichização retrofuturista. Caos como método. Neoevolucionismo. anarcocapitalismo, libero-capitalistas, celibatários involuntários, ultra-direitistas, liberais, raivosos e anônimos, placa de Petri para campanhas presidenciais, publicitários mercenários, cura gay, psicólogos, lugar de fala, orgulho branco, reacionários, neoliberalismo, Ku Klux Klan, terraplanismo, Olavetes e obsessores, criacionismo, censura de quadrinhos, vampirismo intelectual, bitcoin, ethereum, alt-right, desenvolvimento pessoal, políticas nacionalistas, supremacistas brancos, desinformação, controvérsias e mistérios, Breitbart, neurolinguística, torne-se um líder, seja feliz, bom dia grupo! B2B, CEO, CLO, CMM, Headhunter, engenharia reversa, fazendas com tijolos nazistas, Fine Tuning, Know How, universidades públicas com investimento privado, economia de ponta, modelo de negócios, Alta Performance, Paradigma, Reengenharia, Skill. Crossfitêro da vida maravilhosa. Experiência cyber-paranormal. Gratilux. Abortar pode te levar à prisão perpétua. Existe um conluio entre os três poderes. Existe intriga entre os poderes. Existem os poderes dentro dos três poderes. Existe mais de um Brasil Paralelo. Teste de Turing. 

HAKAMA (2014)

A tapeçaria sonora do álbum Benzaiten (1974), de Osamu Kitajima, parece ter sido criada para desorientar nossos níveis psicoarigatô dentro dum esquema jap-rock sintético waaaáwaaaá-dadá. Kitajima - que mais parece uma grotesca divindade espadachim-headbanger religiosa, relincha até o limite da alma uma esplendorosa tessitura barroca, hipertensa, neurótica e libertária.  O processo de repetição gerado durante a reprise da faixa Benzaiten cria uma atmosfera catacumbária cúmplice escultural da primeira faixa do disco. Beats preguiçosos e síncopes, vocais monossilábicos, flautismos quadridimensionais e noise dual de bokens fantasmagóricos amplificam essa experiência sensorial polirrítmica. Vale cada centavo.  

APONTAMENTOS  (2014)

A história começa tarde, ou nem começa

As cenas estão vazias de conflito significativo

O roteiro possui fragilidades

A história é muito rasa

Os vilões são caricaturas, é apenas a maldade pela maldade

A lógica das personagens é lamacenta

A parte feminina é subestimada

A narrativa cai em um padrão de repetição

O conflito é inconsequente

O protagonista é um herói óbvio

O roteiro favorece o estilo sobre a substância

O final é completamente anti-clímax

Os personagens são todos estereotipados

O roteiro sofre de uma complexidade inconsequente

O roteiro sai dos trilhos na quinta cena

As perguntas do roteiro não são respondidas

A história é uma série de vinhetas não relacionadas

A trama não ocorre

O roteiro está confuso

O protagonista não é tão forte quanto [ele ou ela precisa] ser

COMUNICAÇÃO URBANOPIXOGÊNICA  (2013)

Escritos com tinta,

na calçada

Mensagens deixadas por alguém. Pralguém.

Uma espécie de língua pixográfica 

uma legendagem tecnodecrépita

do ambiente maquínico. 

V2  (2014)

sou Eng de Telecomunicações, especialista em RF, ou Radio Freqüência, 1º não existe satelites terrestres como ele mostra no video, 2º essas frequências que ele descreve como "baixas" já são usadas todos os dias por nos, em serviços como Radio AM, FM, TV VHF-V VHF-H, UHF, Radio PY,. PX. Sim existem milhares de satelites, inclusive o primeiro do mundo, o Sputinik, que foi lançado pela Ex União Soviética, na Guerra Fria. até meados da década de 90, usávamos muitos os links satelitais para fazer uma chamada internacional, assistir uma copa do mundo, e tbm transmitir dados, mas hj em dia, usamos a internet v2 para isso, se trata de uma rede mundial que interliga todos os continentes do mundo, com exceção do continente antártico, vivemos em um mundo conectado, isso sim me preocupa, pq a largura de banda da internet cresce tanto que logo teremos acesso instantãnio a qualquer dispositivo conectado a rede no mundo. Agora vamos pensar no seguinte, todas as nossas informações trafegando em tempo real pela rede, imagine um supercomputador capas que invadir qual quer sistema de segurança em questão de segundos, ja pensou oq isso podeira ocasionar? pois eh esse super computador já existe, eh oq eles chamam de COMPUTAÇÃO QUÃNTUCA. 

RESENHA COMISSIONADA #43  (2014)

O recente livro de Marco Alexandre Silva da Silva, Coração Gordo, é dedicado inteiramente aos filmes subterrâneos pré-2000. Nele vemos o autor cult retornar aos filmes físicos, viscerais e transgressivos que o tornaram tão conhecido. Em Coração Gordo o foco se divide entre o histórico, o teórico e o filosófico. Começa explorando o retorno chocante ao no cinema sujo da década de 1980 e o crescimento de filmes experimentais nos anos 90. Da Silva define o cinema independente como radical e contemporâneo, formando subculturas audiovisuais parasitas do status quo. Focando principalmente em um punhado de obras-groundbreaking premiadas e subterrâneas, Silva da Silva examina o desejo - e a necessidade - de performances catárticas e intervenções corporais. Ele pontua sua escrita na análise rizomática e explora áreas tão distintas como a cultura do pólo industrial, o ostracismo de bairro, o realismo soviético fantástico e a dança do ventre surrealista de salão. Em suma, o livro desafia o leitor ao examinar a própria natureza do prazer, do fetiche e do cinema em geral.

MINHA MÃE  (2013)

Você estava lá quando me trouxeram para o hospital e foi você quem tirou minha dentadura e colocou naquele carrinho com todos aqueles frascos e gavetas. Ressuscitação cardiopulmonar. Flashback. Algoritmos. Tanatofobia. Conceito da mente não local. Minha mãe permaneceu morta por mais de uma hora e meia após ter morrido de câncer. Ela viajou para o vazio energético do nada que existe para além do Big-Bang-Crush.

JINGLES  (2012)

Se você está procurando jingles clássicos de supermercado, sua busca acabou! Sounds For The Supermarket é o título de uma seleção em K7 produzida por uma empresa de comunicações baseada em Viamão/RS, em 1975. Esta coleção está disponível para compra via correio para todos os mini e supermercados nas cercanias do centro-sul e sudeste do Rio Grande do Sul. Todas as músicas contêm elementos subliminares inaudíveis destinados a ampliar o consumo dos clientes. Padrões de ondas cerebrais escondidos em notas musicais e nas composições sonoras influenciarão os frequentadores de sua loja. Outros K7’s subliminares já foram vendidos para fins de publicidade e programação social. Musicalmente, os sons são simples, fáceis de ouvir e de digerir. Não existem quaisquer informações sobre a empresa nem sobre os músicos. Cada lado da fita possui dez músicas. Vem com encarte.

Aproveite, e

BOAS COMPRAS!

AMORTECEDORES DA ALMA  (2011)

Estou disponível se você quiser alguém pra conversar, ou pra rezar. Sei muito bem que alguns dos meus amigos aqui podem estar sozinhos, foram traídos pelo parceiro, ou estão lutando contra uma depressão ou alguma outra doença. Fico aqui até tarde, sintam-se livres pra me contatar, caso queirem.

AEROPORTO  (2010)

Teste de LOGOFF teste de quilha e vela semierótica error cabDbackup dentro de dentro insight from of the at higiene mental relativa e lacrada com pré-encefálica significativa monstruosa el niño patagônico convergente fumegante que parece asa de borda delicada e escura com até no máximo 10 gramas de bac-baersthrung derretido fonte de tudo elétrico com fogão preto cromo por dentro brilhante do cockpit azulado metálico para saber precisa ver padrões florais sutiã calcinha e o passaporte surrado que fica quente e triste com toda fortuna perdida pelo backdrop defeituoso.